Monitoramento aponta estabilidade dos recursos hídricos em área de manejo florestal ao longo de 26 anos
O mais antigo monitoramento de microbacia já realizado no Brasil pelo Programa de Monitoramento e Modelagem de Microbacias (Promab) – o do riacho Farje – acontece há 26 anos em uma propriedade da Bracell, em Alagoinhas (BA).
Em parceria com o Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais (Ipef), a Bracell faz o monitoramento hidrológico como ferramenta para analisar as relações entre o plantio de eucalipto e a água
O resultado da análise dos dados obtidos em 2022, em comparação com todos os anos anteriores, desde 1996, deixou os pesquisadores animados.
Isso porque a pesquisa revela que o manejo florestal não tem provocado alterações relevantes na quantidade e qualidade da água na microbacia do Farje.
Os resultados da pesquisa foram apresentados a um grupo de técnicos da Bracell por Aline Fransozi, coordenadora executiva do Promab, programa idealizado pelo Ipef. Segundo Aline, o alto padrão do sistema de coleta de dados conduzido pela Bracell permitiu aferir dados com precisão, o que contribui para uma análise bastante completa da relação entre o manejo e os recursos hídricos da microbacia.
Túlio Queiroz, pesquisador em Ecofisiologia da Bracell, destaca que o nível da água da microbacia Farje é acompanhado diariamente a cada 15 minutos e a quantidade de dados diários em um ano deve ser superior a 292 dias.
“Foram mais de 30 mil dados armazenados digitalmente, 52 semanas de coleta que totalizam 240 amostras de água. Isso mostra o esforço da equipe técnica da empresa para atender aos requisitos para produzir indicadores de qualidade”, observa Túlio
Ainda de acordo com ele, durante os 26 anos de monitoramento, o consumo de água pelas florestas foi muito similar, entre 98% e 99% da precipitação média anual. “Além disso, as operações de colheita florestal, realizadas em abril de 2007, dezembro de 2014 e início de 2020 na microbacia experimental, não produziram mudanças significativas na dinâmica dos parâmetros monitorados quando comparados ao histórico”, pontua.
Microbacia Farje
O riacho Farje nasce na fazenda da Bracell que lhe dá nome e, ao sair da propriedade, passa a se chamar Quiricó Grande, percorrendo os municípios de Araçás, Itanagra e Pojuca, no litoral norte baiano, onde deságua no rio Pojuca.
“o consumo de água pelas florestas foi muito similar, entre 98% e 99% da precipitação média anual”: então não sobrou água para outros usuários à jusante do monitoramento? Os plantios consumiram toda água da chuva nessa microbacia…
Olá, Pedro. Tudo bem?
Obrigada pela sua presença aqui e pelo comentário. O consumo de água citado no texto diz respeito à razão entre a precipitação (água da chuva) e a evapotranspiração (água que retorna à atmosfera por meio da evaporação da água no solo, da água interceptada pelas folhas e da transpiração das plantas, sendo de grande importância para o ciclo da água).
A razão evapotranspiração/precipitação, de fato, influencia a vazão do curso hídrico, mas, neste caso, não provocou falta de água para outros usuários. Há 27 anos, realizamos o monitoramento da água nesta região e fazemos análises quantitativas e qualitativas, tanto em relação ao volume de água no rio quanto em relação à qualidade da água. Estes valores estão estáveis, ainda que, nos últimos 30 anos, a temperatura média na região de Alagoinhas (BA) tenha subido 0.5°C, de acordo com o INMET.
Estudos indicam também que a razão evapotranspiração/precipitação do eucalipto é bem próxima à das florestas nativas (saiba mais aqui). Além disso, é importante comentar que o eucalipto é uma cultura que apresenta grande eficiência no uso da água (quantidade de água usada para produzir um kg de biomassa), quando comparado com outras culturas agrícolas.