Estresse hídrico nas plantas: o que causa e como reverter
Estresse hídrico nas plantas: o que causa e como reverter

Estresse hídrico nas plantas: o que causa e como reverter

Água é um recurso essencial para o desenvolvimento de todas as espécies vegetais. Quando se torna escassa, os cultivos sofrem com o que chamamos de estresse hídrico nas plantas.

Neste artigo, você vai entender o papel da água no desenvolvimento das plantas, as causas e os efeitos do estresse hídrico, bem como conhecer as estratégias para mitigá-lo.

A importância da água nos cultivos

Para que as plantas possam se desenvolver, é necessário que elas obtenham água, luz e nutrientes. Com os avanços tecnológicos e técnicas adequadas de manejo, a luz e os nutrientes são recursos mais “fáceis” de serem manejados e disponibilizados, diferentemente da água.  

Ainda que a quantidade necessária varie de acordo com a espécie, a água é fundamental para o desenvolvimento de qualquer planta. A maior parte da água utilizada pelas plantas é absorvida pelas raízes a partir do solo, juntamente com diversos nutrientes.

Ela é importante em todas as fases do desenvolvimento vegetal, desde a germinação das sementes, passando pela formação das células, reações químicas (como a fotossíntese), florescimento e enchimento dos frutos. 

A germinação, aliás, só é possível na presença da água, que é usada para quebrar macromoléculas com amido em açúcares solúveis, que fornecem energia para a emergência  da plântula.

No Brasil, a agricultura de sequeiro (que não recebe nenhum tipo de irrigação) corresponde a 90% da área agrícola, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e da ANA (Agência Nacional de Águas). Isso significa que nossa produção é altamente dependente do clima. 

Além da água, a temperatura do ar é outra variável de extrema importância, pois governa o fluxo de água no conjunto solo-planta-atmosfera. A ausência de irrigação somada ao clima tropical explica porque o Brasil é tão susceptível ao estresse hídrico em seus cultivos.

Causas do estresse hídrico nas plantas 

Estresses fisiológicos acontecem quando há deficiência ou excesso de algum fator abiótico, como água, luz, nutrição, temperatura, etc. Na maioria dos casos, o estresse é medido em função da sobrevivência ou da produtividade do plantio.

 O estresse hídrico nas plantas, na grande maioria dos casos, está relacionado à falta de água, mas o excesso também pode causá-lo. Portanto, quando falarmos de estresse hídrico estaremos falando em desbalanços causados pela falta de água.

O estresse hídrico acontece na maioria das regiões do Brasil e é causado, essencialmente, por períodos intermitentes ou contínuos sem chuva. Contudo, outros fatores também impactam na existência e severidade deste estresse, como: tipo e conservação do solo, temperatura, umidade e espécie cultivada.

Como a maior parte da água absorvida pela planta vem das raízes, o solo é o principal meio pelo qual as plantas se hidratam. Quando ele está encharcado (saturado), existe ampla disponibilidade de água para as raízes. 

À medida que o solo começa a secar, a planta começa a ter dificuldade em obter esse recurso e, a partir do momento que ela não consegue mais manter um consumo hídrico adequado para garantir o funcionamento de todos os seus processos metabólicos, dizemos que essa planta está sob estresse hídrico. 

Como dito anteriormente, diversos outros fatores podem acelerar ou agravar esse tipo de estresse. Plantas expostas a altas temperaturas tendem a usar mais água e, consequentemente, remover mais água do solo, expondo-se mais a esse estresse em períodos de baixa ou nenhuma precipitação. 

Solos compactados também são um problema, pois podem reduzir a infiltração da água das chuvas e limitar o crescimento das raízes, deixando-as mais susceptíveis à seca.

Efeitos do estresse hídrico nas plantas 

Os efeitos do estresse hídrico variam de acordo com as espécies, com o grau, a intensidade e com o período de duração de estresse em que a planta está sujeita. 

Além disso, os efeitos podem ser mais ou menos severos dependendo do período de desenvolvimento em que houve a limitação na disponibilidade de água, podendo ocasionar mudanças anatômicas, fisiológicas e bioquímica e, no pior dos cenários, a morte das plantas. 

Entre as implicações do estresse hídrico nas plantas podemos citar:

  • Redução da transpiração via fechamento dos estômatos (estruturas encontradas na epiderme vegetal das folhas que são responsáveis por controlar a entrada e saída de gases e vapor d’água). Como consequência, as trocas gasosas e a transpiração das plantas ficam limitadas, bem como a assimilação de carbono (fotossíntese).
  • Alterações morfológicas, anatômicas e citológicas das plantas, especialmente nas raízes e nas folhas. Como exemplo deste caso, podemos citar a murcha das folhas, causada pela perda de água.
  • Inibição do crescimento e alteração do padrão de translocação, prejudicando o desenvolvimento das plantas.
  • Falhas reprodutivas como abortos dos botões floreais e malformações dos tecidos vegetais.
  • Murchamento das plantas, que está diretamente relacionado com o potencial de água na folha, a resistência estomática, a transpiração, a fotossíntese e a temperatura.
  • Em casos severos, o estresse hídrico pode resultar na morte das plantas.

Dessa forma, fica evidente que o estresse hídrico pode ser responsável por uma expressiva diminuição na produtividade das culturas, ocasionando grandes perdas para o setor agrícola.

De acordo com um estudo da Embrapa Florestas, a seca é a causa de maior destaque na variabilidade na produção agrícola nacional e o principal fator de risco à produção de eucalipto no Brasil.

Como minimizar o estresse hídrico nas plantas

Ainda que não possamos controlar os eventos climáticos, existem diversas medidas que podem ser tomadas no sentido de atenuar o estresse hídrico nas plantas:

  • Irrigação: a principal estratégia, sem dúvida, é a irrigação, que tem crescido muito no Brasil. Ao optar por essa prática, o produtor deve escolher entre os métodos disponíveis aquele que melhor se adequa à sua realidade, como a irrigação localizada, por pivô central ou por aspersão (que simula uma chuva direcionada).Apesar de ser a estratégia mais assertiva para combater a falta d’água, a irrigação exige outorgas ambientais e um investimento relativamente alto por parte do produtor rural, o que acaba limitando sua expansão no Brasil.
  • Conhecer o histórico de chuvas da região e implantar a cultura na época recomendada pelo Zoneamento de Risco Climático (Zarc), também representam algumas táticas que estão ao alcance de todos os produtores.
  • Cuidados com o solo são outros aliados do manejo do estresse hídrico nas plantas. Boas práticas, como o plantio direto, ajudam a proteger e a reter água no solo.
  • Selecionar espécies tolerantes ao déficit ou excesso hídrico não apenas ajuda a garantir a resiliência das práticas agrícolas em face das mudanças climáticas, mas também promove o uso sustentável dos recursos hídricos, contribuindo para a preservação dos ecossistemas e a segurança alimentar global.
  • A redução do número de plantas por hectare também é uma estratégia eficiente para minimizar o estresse hídrico, principalmente tratando-se de culturas florestais. Um menor número de plantas reduz a evapotranspiração e, consequentemente, o estresse hídrico.

 

O eucalipto, por exemplo, é uma planta cujo aproveitamento hídrico é considerado muito eficiente, conforme detalhado no artigo “Desvendando a crença do deserto verde”. Além disso, quando bem manejadas, as florestas de eucalipto contribuem com a preservação de corpos d’água.  

Conclusão

O estresse hídrico nas plantas, é, portanto, um problema que a depender do grau, pode limitar o crescimento e a produção das plantas, causando grande preocupação ao setor agrícola brasileiro, uma vez que a sazonalidade climática, com grandes períodos de seca, é a principal responsável pela variação produtiva do país. Isso porque a maior parte da nossa produção está em área de sequeiro.

Por isso, o estresse hídrico é um grande desafio. A adoção de plantas e variedades tolerantes à seca, a adequação do espaçamento e o manejo adequado do solo são algumas práticas que contribuem para reduzir os riscos de quem produz.

Autor

Anny Gonçalves

Graduada em Engenharia Florestal, pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Anny possuí mestrado em Ciências Florestais pela Universidade Federal do Espírito Santo(UFES) e doutorado em Engenharia Florestal pela Universidade Federal de Lavras. Integra o time de P&D Florestal da Bracell desde 2023 como Pesquisadora na área de Ecofisiologia Vegetal.




Autor

Túlio Queiroz

Graduado em Engenharia Florestal, pela Universidade Federal de Minas Gerais, Túlio possui mestrado e doutorado na área, atuando há mais de 8 anos com Pesquisa e Desenvolvimento Florestal. Integra o time da Bracell desde 2020, como Pesquisador em Ecofisiologia, sendo responsável por desenvolver pesquisas que visam garantir e melhorar a produtividade e estabilidade florestal, através da geração de informações aplicadas em Ecofisiologia, Hidrologia e Manejo de Florestas Nativas e plantadas.




Autor

Geovanni Barros

Engenheiro Florestal e Mestre em Fisiologia Vegetal formado pela Universidade Federal de Lavras, Geovanni atua como Pesquisador na área de Ecofisiologia Vegetal da Bracell desde 2019.

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