Murcha bacteriana pode causar prejuízos a diversas culturas
Saiba como identificar a murcha bacteriana nos plantios de eucalipto e quais medidas de controle adotar
Você sabia que a murcha bacteriana, causada por uma bactéria de solo, afeta um número considerável de espécies vegetais? Essa bactéria possui uma ampla gama de hospedeiros, incluindo mais de 200 espécies de plantas, de interesse agronômico, florestal e ornamental. Culturas de tomate, batata, pimentão, berinjela, jiló, fumo e eucalipto são apenas alguns exemplos.
Neste texto, vamos mergulhar no universo da murcha bacteriana, desvendando seus segredos e descobrindo como combatê-la de forma eficaz. Prepare-se para conhecer:
- O que é a murcha bacteriana e como a doença é transmitida?
- Quais sinais e sintomas indicam a presença da doença em seu cultivo?
- Como é o ciclo de vida da bactéria que causa a doença?
- Que medidas podem ser tomadas para controlar a murcha bacteriana e proteger suas plantações?
Boa leitura!
O que é a murcha bacteriana e como a doença é transmitida?
A murcha bacteriana é uma doença causada pela bactéria de solo Ralstonia solanacearum (R. pseudosolanacearum). A doença é sistêmica, ou seja, a bactéria causa infecções nos tecidos vasculares da planta, a partir do sistema radicular. Uma vez no interior dos tecidos, a bactéria se aloja no sistema vascular, que é responsável por transportar água e nutrientes, de forma ascendente, para o restante da planta. Com a multiplicação celular bacteriana, ocorre o entupimento dos vasos condutores. Além disso, as infecções podem causar necrose do tecido vascular, reduzindo sua atividade de condução de água e nutrientes. Em função do impedimento parcial ou total deste fluxo, a planta doente apresenta sintoma de murcha, amarelecimento, seca das folhas progredindo da base para o ápice da copa e, finalmente, morte em estágios mais avançados.
As infecções do patógeno podem ocorrer no campo, a partir do solo contaminado com a bactéria. Além disso, a produção de mudas de eucalipto por meio de matrizes doentes assintomáticas, ou seja, que não apresentam sintomas evidentes, é uma das principais formas de disseminação da doença. No campo, a infecção tem início a partir de ferimentos ou a bactéria penetra na planta pelas raízes mortas. Estes ferimentos e morte de raízes podem ocorrer de forma natural, com o crescimento da planta, por estresses (como, por exemplo, a seca em determinados períodos do ano) ou, mesmo, durante o manejo, incluindo por exemplo, os tratos culturais, a colheita e a rebrota do eucalipto.
O plantio de eucalipto, assim como qualquer outra cultura florestal ou agrícola, é afetado por doenças que, se não manejadas adequadamente, podem causar grandes prejuízos e, até mesmo, inviabilizar sua exploração para fins comerciais. No Brasil, a murcha bacteriana em eucalipto foi reportada pela primeira vez no início de 1980, em plantios de Eucalyptus grandis, em Prata, Minas Gerais. Em 2005, a ocorrência desta doença em viveiros foi detectada pela primeira vez, causando grandes perdas econômicas em viveiros na Bahia, Pará, Maranhão, Minas Gerais e Espírito Santo, com um prejuízo de cerca de R$ 50 milhões.
Nas fotos, à esquerda, minicepa com sintomas característicos da murcha bacteriana e, à direita, muda com os sintomas da doença | Fotos: Acervo Bracell
Quais sinais e sintomas indicam a presença da murcha bacteriana em seu cultivo?
No campo, as plantas começam a apresentar sintomas, geralmente, a partir de três meses de idade. O sintoma mais característico é a redução gradual do brilho das folhas, seguido de murcha, amarelecimento, seca e morte da planta. As folhas murcham e ocorre uma desfolha discreta da base para o ápice. Ao realizar o corte da planta, é possível observar, sobre o lenho, a exsudação de pus bacteriano. Essa exsudação é o extravasamento de células do patógeno, misturada com seiva da planta. Para facilitar a observação da exsudação do patógeno, pode-se mergulhar a seção do lenho cortada em água limpa, o que permite observar, após alguns minutos, a exsudação de grande quantidade de células bacterianas. Além destes sintomas visuais, o tecido lenhoso doente apresenta cheiro característico de fermentação. As plantas doentes, de forma geral, são menores que as saudáveis. A distribuição da doença no campo ocorre de forma aleatória, progredindo normalmente para pequenas “reboleiras” de plantas doentes.
Como é o ciclo de vida da bactéria que causa a doença?
O ciclo de vida de patógenos de plantas ocorre em cinco fases, denominadas de infecção, colonização, reprodução, disseminação e sobrevivência:
- Infecção: ocorre por meio de portas de entrada, como ferimentos ou mesmo pela morte de raízes;
- Colonização: as células bacterianas se multiplicam rapidamente e colonizam os tecidos vasculares, no sentido ascendente;
- Reprodução: a reprodução da bactéria é acelerada, sobretudo em condições de estresse da planta, sob condições de elevada umidade e temperatura;
- Disseminação: ocorre pelo solo, restos culturais, água, ferramentas e implementos que causam ferimentos, bem como equipamentos de colheita. Também é muito comum a disseminação da doença por meio de material propagativo e por mudas assintomáticas; e
- Sobrevivência: é afetada por vários fatores, sendo favorecida pela maior umidade e temperatura, disponibilidade de nutrientes e presença de hospedeiros alternativos, incluindo espécies de plantas daninhas.
É muito importante conhecer detalhes do ciclo de vida do patógeno para que seja possível estabelecer medidas eficientes de controle. Além disso, para que a doença possa ocorrer, é necessária a presença de três fatores principais, cuja interação é conhecida como triângulo da doença. Estes fatores compreendem o ambiente, o patógeno e o hospedeiro. As doenças de plantas só ocorrem na presença de ambiente favorável, de um ou mais microrganismos capazes de causar doença e em hospedeiro suscetível.
Nas fotos, à esquerda, planta com sintomas característicos da murcha bacteriana e, à direita, planta infectada com exsudação de pus bacteriano | Fotos: Acervo Bracell
Que medidas podem ser tomadas para controlar a murcha bacteriana e proteger suas plantações?
Para plantios de eucalipto, assim como para todas as outras espécies de plantas hospedeiras do patógeno, as medidas de controle são preventivas. Existem estudos promissores para o controle do patógeno utilizando bacteriófagos e indutores de resistência, porém ainda são necessárias maiores investigações. É importante mencionar que este patógeno é natural do solo, possui muitos hospedeiros alternativos, tem capacidade de sobrevivência em restos culturais, além de uma ampla variabilidade genética. Estas características dificultam o controle após o estabelecimento do patógeno na área de plantio. Dessa forma, a melhor estratégia de controle é a preventiva, por meio da seleção e plantio de clones resistentes à doença.
Existe uma ampla variabilidade genética para resistência à doença, entre as espécies, procedências e clones de eucalipto. A existência de variabilidade genética permite avaliar e selecionar clones de eucalipto resistentes à esta e outras doenças importantes. Essa estratégia é extremamente eficiente permitindo reduzir o impacto destas doenças, evitando também o uso de agrotóxicos. Além de selecionar clones resistentes, a empresa adota estratégias de melhoramento genético para aumentar a frequência de clones resistentes à esta doença. Na Bracell, todos os clones são avaliados quanto ao seu nível de resistência à essa e outras importantes doenças do eucalipto, antes da recomendação de plantio em larga escala.
Além da resistência genética, as medidas preventivas e de manejo integrado ainda incluem procedimentos para aumentar a segurança fitossanitária nos viveiros. Para isso, é fundamental que a produção de mudas seja realizada a partir de matrizes sabidamente sadias. No viveiro, além de garantir o plantio de mudas sadias para formação de minicepas, vários procedimentos são adotados para aumentar a segurança fitossanitária. Estes procedimentos incluem a desinfestação periódica das estruturas, emprego de pedilúvio, uso de água, substrato e areia livre do patógeno. Além disso, toda manipulação do material vegetal deve ser realizada por ferramentas constantemente desinfestadas e por equipe treinada sobre estes procedimentos. No campo o manejo integrado da doença engloba, além da seleção e o plantio de clones resistentes à doença, uso de mudas de boa qualidade e adequado preparo do solo para evitar o estresse das plantas, bem como a reforma dos talhões com a presença da doença utilizando somente clones de eucalipto resistentes.
Se tiver interesse de conhecer um pouco mais sobre esta doença, sugerimos algumas publicações técnicas para leitura:
- Alfenas, A.C., Zauza, E.A.V., Mafia, R.G.; Assis, T.F. Clonagem e doenças do eucalipto. Viçosa, MG. Editora UFV. 2009. 500p.
- Alfenas, A.C.; Mafia, R.G.; Sartório, R.C.; Binoti, D.H.B.; Silva, R.R.; Lau, D.; Vanetti, C.A. Ralstonia solanacearum em viveiros clonais de eucalipto no Brasil. Fitopatologia Brasileira, v.31, n.4, p.357-366, 2006. https://doi.org/10.1590/S0100-41582006000400005
- Mafia, R.G.; Alfenas, A.C.; Ferreira. M.A. Avaliação da resistência do eucalipto à murcha-bacteriana causada por Ralstonia solanacearum. Revista Árvore, v.38, n.4, p.649-656, 2014. https://doi.org/10.1590/S0100-67622014000400008
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Texto bastante esclarecedor, com embasamento técnico científico.
Parabéns aos autores.
Oi, Abílio! Como vai? Muito obrigada por sua presença em nosso blog e pelo seu comentário. Volte mais vezes, estamos sempre publicando novos conteúdos aqui sobre boas práticas ambientais para propriedades rurais e os benefícios das florestas plantadas de eucalipto. Forte abraço!